Quase um ano após a entrada em vigor da regulamentação das apostas esportivas e jogos online no Brasil, o setor vive um momento de consolidação, ajustes e disputas estruturais. O mercado, que até 2024 operava em uma zona cinzenta, passou por transformações profundas que impactaram operadores, apostadores, afiliados e o próprio governo.
Com novas regras, exigências técnicas, tributação definida e fiscalização em andamento, o cenário de dezembro de 2025 é bem diferente daquele visto antes da regulamentação.
O que mudou com a regulamentação
A principal mudança foi o fim da informalidade. Desde janeiro de 2025, apenas empresas autorizadas pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) podem operar legalmente no país, seguindo regras claras de:
- compliance e prevenção à lavagem de dinheiro
- proteção de dados e verificação de identidade (KYC)
- políticas de jogo responsável
- transparência em bônus, odds e pagamentos
Além disso, operadores passaram a pagar:
- outorga fixa para operar no Brasil
- tributação sobre o GGR (receita bruta de jogos)
- impostos incidentes sobre a operação local
Na prática, o mercado deixou de ser “terra de ninguém” e passou a funcionar como uma indústria regulada, com custos, obrigações e fiscalização.

Quem entrou ou se fortaleceu no mercado regulado
O ambiente regulado atraiu grandes grupos internacionais, que antes operavam com cautela ou de forma indireta, e fortaleceu marcas que decidiram investir de forma definitiva no Brasil.
Entre os movimentos mais claros do pós-regulamentação estão:
- operadores que investiram em licença brasileira, estrutura local e conformidade regulatória
- marcas com foco em experiência do usuário, saques rápidos via Pix e suporte em português
- plataformas que priorizaram jogo responsável e retenção, em vez de bônus agressivos
Casas já conhecidas do público brasileiro se consolidaram, enquanto novas marcas surgiram com propostas mais profissionais, especialmente no cassino online e em apostas esportivas ao vivo. O mercado passou a privilegiar empresas com capital, estrutura e visão de longo prazo.
Grandes Corporações no Brasil
Os nomes fortes que passaram a atuar no Brasil após regulamentação são:
- BetMGM: a marca ligada ao grupo MGM é uma das maiores bets online do mundo. No Brasil, ela conta com a Globo como sócio minoritário.
- PlayUZU: a marca ligada ao grupo Skill on Net é um dos maiores cassinos online do mundo, com operação em 8 países e agora também está atuando no Brasil.
Outras marcas ainda devem despontar no cenário em 2026, como é o caso da Caesars – um dos maiores conglomerados de apostas do mundo – que já tem licença brasileira.
Marcas Nacionais ganharam espaço
Dentro do mercado regulado, algumas novas plataformas nacionais surgiram ou se fortaleceram. Os destaques são:
- Betnacional: a marca se fortaleceu graças ao seu marketing, depósitos acessíveis e super odds diárias. Recentemente, a Betnacional ganhou aporte do grupo Flutter, um dos maiores do iGaming e por trás de marcas como Betfair, Fanduel e outros gigantes.
- Br4bet: a bet administrada pelo grupo Sabiá Administração cresceu na participação de mercado, especialmente a sua oferta de Super Odds e Indique um Amigo. O grupo também está por trás da Lottoland.
- MC Games: ligada ao Sistema Lotérico de Pernambuco, a MC Games é um dos nomes que desponta no cenário nacional.
Para 2026, a Bet do Milhão, ligada ao SBT, também deve estrear. Outras emissoras que já contam com sua própria bet são: Band (Bandbet) e Record (r7 bt). A bet da Caixa Econômica Federal, contudo, não deve ser lançada. Após uma cobrança do presidente Lula sobre o projeto e oposição política, o plano foi adiado.
Quem saiu ou perdeu espaço após a regulação
Por outro lado, a regulamentação provocou uma limpeza natural do mercado. Diversas plataformas populares no período pré-regulação não se adaptaram às novas regras e deixaram de atuar legalmente no Brasil.
Entre os principais exemplos estão:
- Parimatch (que inclusive chegou a patrocinar clubes brasileiros como o Botafogo foi comprada pela VBet no cenário nacional)
- PlayPix (a marca também passou a integrar as operações do VBet no Brasil após regulamentação)
- BC.Game
- 1win
- Melbet
Essas marcas não constam nas listas de operadores autorizados e, hoje, só aparecem em ambientes irregulares ou fora da jurisdição brasileira. Em comum, muitas delas tinham modelos baseados em operações offshore, bônus agressivos e uso intensivo de criptomoedas, incompatíveis com o novo marco regulatório.
O caso específico da 1xBet
Um caso particular é o da 1xBet. A empresa solicitou licença e consta na lista de autorizadas, mas, até dezembro de 2025, o site ainda não operava plenamente com domínio brasileiro ativo. É um exemplo de marca em transição, que optou pelo caminho regulado, mas ainda não concluiu sua implementação local.
Criptomoedas: um divisor de águas no iGaming brasileiro
Uma das mudanças mais impactantes do mercado pós-regulamentação foi a proibição do uso de criptomoedas como meio de pagamento em casas de apostas legalizadas no Brasil.
Antes de 2025, criptoativos eram amplamente utilizados por plataformas offshore por oferecerem:
- transações rápidas
- menor rastreabilidade
- menos exigências de verificação
Com o novo marco regulatório, pagamentos em criptomoedas passaram a ser expressamente proibidos nas operações licenciadas.
Impacto direto em marcas cripto-dependentes
Essa decisão teve efeito imediato sobre operadores cujo modelo era fortemente baseado em cripto, como:
- BC.Game
- BitStarz
- 1win
Essas plataformas não se adaptaram às exigências brasileiras e, hoje, só atuam fora do mercado legal, reforçando a separação entre o ambiente regulado e o ilegal.
Exemplo de adaptação: Stake
Em sentido oposto, a Stake tornou-se um dos exemplos mais claros de adaptação ao mercado brasileiro. Ao optar pela licença nacional, a empresa abandonou completamente o uso de criptomoedas no Brasil e passou a operar exclusivamente com Pix e métodos bancários tradicionais.
O caso da Stake ilustra bem a nova lógica do setor: quem quer operar legalmente precisa se adequar às regras locais, mesmo que isso signifique abrir mão de modelos que funcionavam em outros países.

🎁 Bônus de boas-vindas proibidos no Brasil: como isso mudou o jogo
Uma das transformações mais significativas do mercado regulamentado de apostas no Brasil foi a proibição dos bônus de boas-vindas baseados em cadastro — aquelas iscas de “100% até R$500” ou rodadas grátis para novos usuários. Com a regulamentação em vigor, só são permitidos bônus para usuários já cadastrados e verificados, alinhados às exigências de jogo responsável e proteção ao consumidor.
Essa mudança teve impacto direto em três frentes:
- Operadores tiveram que reinventar suas ofertas
Em vez de focar em promoções de aquisição agressivas, as casas passaram a apostar em programas de fidelidade, cashback, missões semanais, pontos por volume apostado e prêmios por tempo de uso para manter usuários ativos e reduzir churn. - A forma como apostadores escolhem casas de apostas mudou
Hoje, mais do que “quem dá o maior bônus”, usuários brasileiros avaliam:- processo de saque
- taxas e limites
- qualidade dos odds
- experiência de uso no app/site
Em outras palavras, o foco migrou da “promoção inicial” para a experiência contínua, favorecendo operadores mais estruturados.
- Menos ruído publicitário e mais retenção real
A proibição eliminou parte do barulho comercial exagerado e tornou as campanhas de marketing mais educativas e orientadas ao longo prazo.
Esse novo modelo já começa a moldar a percepção do apostador brasileiro: valorização da confiança e continuidade em vez da recompensa imediata.
Apostadores e volume de apostas: o que os números mostram
Com quase um ano de mercado regulado, surgem os primeiros dados robustos sobre o comportamento dos apostadores no Brasil em 2025:
- 17,7 milhões de brasileiros apostaram online no primeiro semestre de 2025, nos sites licenciados do país. Isso mostra um engajamento muito grande mesmo em um mercado em transição de informal para regulamentado. (Dados: Serviços e Informações do Brasil)
- GGR (Gross Gaming Revenue) no período dos primeiros seis meses chegou a R$17,4 bilhões, indicando o volume efetivo de apostas após pagamento de prêmios. (Dados: G3 Newswire)
- A estimativa de faturamento total do mercado brasileiro em 2025 é de US$ 4,139 bilhões (aproximadamente R$22 bilhões) — o que deve colocar o Brasil como o 5º maior mercado de apostas do mundo até o fim do ano. (Dados: iGaming Brazil)
📈 Comparativo com anos sem regulamentação:
- Em 2024, estimativas apontavam um mercado informal que movia dezenas de bilhões de reais em apostas online, com projeções variando de R$8 bilhões a R$20 bilhões em receita. (Dados: Macro Attachment)
- A diferença agora é que esse volume está sendo monitorado, tributado e regulado, o que dá mais segurança e previsibilidade ao setor.
📌 Perfil do apostador (2025):
Dados preliminares do mercado indicam que cerca de 17,7 milhões de usuários ativos realizaram apostas em sites autorizados no primeiro semestre — o que mostra um público consolidado que migrou ou permaneceu no ambiente legal após a regulamentação. (Dados: Serviços e Informações do Brasil)
O que esperar em 2026 — com a Copa do Mundo no horizonte
O ano de 2026 já desponta como um marco no mercado de iGaming brasileiro, impulsionado por um dos maiores eventos esportivos do planeta: a **Copa do Mundo.
As expectativas do setor para 2026 incluem:
⚽️ 1. Explosão de volume durante a Copa
Historicamente, grandes eventos esportivos multiplicam o número de apostas e o volume apostado. Mundial de futebol é o principal catalisador global de apostas esportivas, e com o Brasil entre os favoritos e com grande base de fãs, a projeção é de que operações legalizadas capturem recorde de atividade.
💡 2. Aceleração da profissionalização de ofertas
Com os grandes números de 2025, operadores devem:
- ampliar análises preditivas e odds dinâmicos
- fortalecer produtos ao vivo
- personalizar experiências de jogo por perfil
Essas evoluções técnicas podem aumentar engajamento e receita espaçadamente.
📈 3. Nova rodada de investimentos e consolidações
Com números robustos e tendência de crescimento global, o mercado pode atrair:
- mais investidores institucionais
- fusões e aquisições de marcas menores
- expansão de afiliados e canais de conteúdo
🔍 4. Reguladores sob pressão
O crescimento também trará desafios:
- necessidade de contramedidas ao mercado ilegal, que segue grande e ativo
- reforço de mecanismos de proteção ao consumidor
- maior foco em jogo responsável e prevenção de vício
Um estudo recente inclusive projeta que o mercado ilegal pode dominar até 72% das apostas em 2026, impulsionado por grandes eventos esportivos, se o combate irregular não for intensificado. (Dados: Yield Sec™)
💰 Governo estuda novas formas de tributação
Ao mesmo tempo em que o mercado cresce, o governo avalia novas medidas fiscais para ampliar a arrecadação sobre o setor de apostas. Entre as propostas em debate estão:
- possível taxação de até 15% sobre os depósitos dos usuários, medida que gerou forte reação do setor por atingir diretamente o apostador final (leia detalhes no nosso artigo sobre a CIDE-Bets);
- aumento gradual da carga tributária sobre as casas de apostas, com discussão sobre elevação das alíquotas incidentes sobre o GGR;
- revisão de regras sobre contribuições adicionais para fundos públicos ligados à saúde, esporte e segurança.
Essas propostas ainda estão em análise e não foram plenamente implementadas, mas já geram preocupação entre operadores e especialistas, que alertam para o risco de encarecer o jogo legal e empurrar parte da demanda para o mercado ilegal.
📉 Risco de impacto no apostador e no mercado legal
Caso avancem sem ajustes, essas medidas podem provocar:
- redução do ticket médio dos apostadores
- migração de usuários para plataformas não licenciadas
- perda de competitividade das bets legalizadas frente a sites offshore
O desafio do governo será equilibrar arrecadação e sustentabilidade do mercado, especialmente em um ano de forte exposição como 2026.
O mercado cresceu ou diminuiu após a regulamentação?
A resposta curta é: o mercado cresceu em valor, qualidade e previsibilidade — mas encolheu em quantidade bruta de operadores.
Na prática, o que ocorreu em 2025 foi uma reorganização estrutural do setor, impulsionada pelos custos de licenciamento, exigências regulatórias e maior fiscalização estatal.
O que mudou na prática
- Menos sites ativos
A exigência de outorga, estrutura local e compliance eliminou centenas de plataformas que operavam de forma oportunista ou exclusivamente offshore. Listas oficiais divulgadas pelo Ministério da Fazenda mostram um mercado significativamente mais enxuto do que em 2024. - Maior concentração de mercado
O volume de apostas passou a se concentrar em grandes grupos licenciados, com capacidade financeira para absorver custos regulatórios, investir em tecnologia e cumprir exigências de KYC, AML e jogo responsável. Esse movimento é semelhante ao observado em mercados maduros como Reino Unido e Espanha. - Aumento do ticket médio e da recorrência
Com menos bônus de aquisição agressivos e maior foco em retenção, operadores passaram a trabalhar com apostadores mais engajados, o que elevou o ticket médio e o valor por usuário ativo. Dados setoriais apontam crescimento do GGR mesmo com menos operadores. - Arrecadação fiscal crescente
Diferentemente do período pré-regulação, em que o volume movimentado era estimado, mas não monitorado, o mercado de 2025 passou a gerar arrecadação efetiva e rastreável, com impostos incidentes sobre o GGR, outorgas e operações locais. Relatórios do Ministério da Fazenda e da SPA indicam avanço consistente na formalização da receita.
Hoje, menos empresas movimentam mais dinheiro dentro do mercado legal, com maior controle estatal, previsibilidade econômica e segurança jurídica para todos os envolvidos.
E o mercado ilegal? Ele diminuiu de fato?
O mercado ilegal não acabou, mas mudou de forma, escala e estratégia após a regulamentação.
Se antes operava de maneira difusa e amplamente acessível, hoje o mercado clandestino é mais segmentado, mais dependente de criptomoedas e concentrado em nichos específicos de usuários.
Avanços concretos no combate ao ilegal
- Bloqueio frequente de sites não licenciados
Desde o início de 2025, autoridades brasileiras intensificaram o bloqueio de domínios que operam sem autorização. Relatórios oficiais apontam milhares de URLs suspensas ou retiradas do ar ao longo do ano. - Restrições a meios de pagamento
Bancos, fintechs e instituições de pagamento passaram a atuar de forma mais ativa, limitando transações com plataformas não autorizadas. Esse movimento reduziu significativamente a facilidade de depósitos e saques no mercado ilegal tradicional. - Campanhas educativas e sinalização institucional
O governo e o setor passaram a comunicar de forma mais clara os riscos de apostar em sites não licenciados, reforçando temas como ausência de proteção ao consumidor, risco de fraude e falta de garantias de pagamento.
Onde o desafio permanece
- Bônus agressivos e promessas irreais
Plataformas ilegais continuam atraindo usuários com ofertas proibidas no mercado legal, como bônus de cadastro elevados, rodadas grátis sem verificação e promoções vinculadas a criptoativos. - Menor burocracia como atrativo
A ausência de KYC rigoroso e exigências documentais ainda seduz parte do público, especialmente usuários ocasionais ou de menor ticket. - Limites técnicos de bloqueio total
O bloqueio de domínios é eficaz, mas não definitivo. Sites ilegais seguem migrando entre domínios, espelhos e canais alternativos, exigindo fiscalização contínua.
Em resumo, o combate ao mercado ilegal avançou de forma concreta, mas segue sendo um dos maiores desafios do iGaming brasileiro, especialmente diante do risco de novas taxações excessivas que possam tornar o mercado legal menos competitivo.
Conclusão: implicações do mercado regulado de apostas no Brasil
Quase um ano após a regulamentação, o mercado brasileiro de apostas online deixou de operar em um ambiente informal para se consolidar como um setor econômico estruturado, monitorado e relevante para o país. As mudanças implementadas em 2025 redefiniram responsabilidades e expectativas para todos os agentes envolvidos.
Mudanças para Apostadores
Para os apostadores, o principal ganho foi a proteção. A operação em plataformas licenciadas trouxe maior previsibilidade em pagamentos, regras mais transparentes e mecanismos mínimos de defesa do consumidor. Ao mesmo tempo, a proibição de bônus de boas-vindas reduziu estímulos artificiais ao jogo excessivo, deslocando o foco para experiência, confiança e jogo responsável.
Novo cenário para Operadores
Para os operadores, a regulamentação funcionou como um processo de seleção natural. Permanecer no mercado passou a exigir capital, estrutura local, compliance e visão de longo prazo. Esse novo ambiente favoreceu empresas mais profissionalizadas e acelerou a consolidação do setor, aproximando o Brasil de padrões observados em mercados regulados maduros.
Impactos gerais na Sociedade e na Economia
Do ponto de vista da sociedade, a formalização permitiu avanços concretos. O setor passou a gerar arrecadação rastreável, ampliou a capacidade de fiscalização estatal e impulsionou a criação de empregos diretos e indiretos. Estimativas do mercado indicam que a indústria de apostas online já sustenta dezenas de milhares de postos de trabalho, envolvendo tecnologia, marketing, atendimento, meios de pagamento e serviços especializados.
Apesar dos avanços, desafios persistem. O mercado ilegal ainda demanda atenção contínua, e o debate sobre carga tributária será central nos próximos anos, especialmente diante da Copa do Mundo de 2026. O sucesso do modelo brasileiro dependerá da capacidade de equilibrar crescimento, arrecadação e proteção ao consumidor sem comprometer a sustentabilidade do mercado legal.




















